domingo, dezembro 30, 2007

para o rapaz, um pouco depois da meia-noite
se ele quiser acusar-se


as sombras da tua apresentação
surgiram antecipadamente para declarar
a ocorrência inesperada de um desaparecimento,
o corpo de uma criança..,
eu não soube dizer outra coisa
senão que nesta zona da cidade
não é assim tão estranho que isso suceda
afinal o que aqui não falta são parques infantis, igrejas e cemitérios <>
quiseste dar uma volta pelo jardim, falavas de poetas
e escritores cujas obras podiam conter palavras-chave
de acesso a esse submundo onde a verdade é não interessa
e cada passo acelera em direcção ao escuro
longe da luz, dizias tu, longe da luz
apenas o afastamento nos poderia
tornar pessoas simplesmente geniais
e suficientemente inúteis
de resto falavas sem entusiasmo na obra daqueles que
não tinham problema em comprometerem a integridade das melhores ideias
a favor de um envenenamento das tristes massas,
afinal tudo o que se disse só se disse se apareceu na colecção
dos livros da nossa injusta História "(...)"
e tu que aprendias a arte de sibilar adivinhas
ao ouvido das estátuas,
sabias agora que o futuro espera o nosso caminho
como uma puta de rua, pronta a entregar o corpo
mas não a alma, foi assim que me convenceste,
o melhor é seguir todas as pistas
encontrar a criança
explicar-lhe a função das letras e não a leitura
das próprias palavras,
as ideias viriam por fim como um castigo,
um código necessário para dar ao mundo
essa forma redonda.

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