sábado, agosto 25, 2007

Rilke nunca te diria isto

Para a Annabel Lee

Teria sido feliz ao acreditar na
natureza genética dos relógios.
Talvez assim Janeiro não fosse o mês
com mãos mais curtas, simples detalhe vítreo
da madrugada insondável do teu corpo.

Poderia ter invocado a brancura das paredes.
Nada teria sido mais fácil que recolher a sua
espécie mais invisível de fruto.
Poderia, contigo, ter dividido o tempo
entre aquele que me vivo e aquele que me fazem viver.

Ritmicamente encaixado no teu corpo,
não desejaria ter estas asas que só me fazem escavar.

Mas escolhi ser anjo. E fragmentar-me em quatro pedaços.
Tantos quantas as letras do teu nome:
cicatrizes que crescem a partir deste lado.

3 comentários:

Sara F. Costa disse...

Como posso agradecer a honra de me dedicares tais palavras? Queres sufocar a minha capacidade de reacção! Ainda para mais um Dorian Gray. O meu pseudónimo para concursos literários costuma ser Sibyl Vane. Não é curioso?

David disse...

Não precisas de agradecer. Mais poemas no blogue seria bom, contudo. A vida tem destes acasos literários, já digo eu num poema, Sybil Vane...

Sara F. Costa disse...

Que não seja por isso.