por usar as palavras
para dizer só o que pensava
decidiram que merecia um castigo
em cada mão
só poderia guardar
uma palavra
- ficariam queimadas
na sua fina pele
e seriam a única maneira
de se fazer entender,
todas as outras
ser-lhe-íam roubadas
deram-lhe um dia para pensar
e ele chorou e escreveu os seus
últimos poemas
os quais
não faziam sentido nenhum,
eram só palavras dispersas
que as lágrimas borravam
formando uma tristeza indecifrável
o dia recuava perante a noite
e então ele percebeu
que não tinha escolha
teria que marcar
a palma de uma mão
com um "sim"
e a outra palma
com um "não"
era evidente
não havia
outra opção
foi empurrado para o sono
e sonhou que se despedia
de cada uma das palavras
- elas vinham beijá-lo
e ele apertava-as
uma a uma
sentindo-as
pela última vez
no dia seguinte
foi chamado
e pediram-lhe
as duas palavras
mas quando ia dizê-las
sentiu as mãos diferentes
abriu-as
e delas explodiram mil reflexos,
em cada mão haviam nascido
milhares de espelhos
aí ele sorriu
e gritou as suas palavras
"sou" / "poeta"!
1 comentário:
Pudera ser a chibata
que te marca
essa corda que te ata
sobre a semente
promessa de vida que se mata
para dar lugar à flor
que nasce do teu sofrer
ao sorver as tuas lágrimas
e direi: assim seja!
para que o teu castigo poeta
seja o princípio do meu nascer
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