segunda-feira, agosto 13, 2007

Estrangeiro


procurei-te cegamente, atravessando o sentido táctil
sobre a terra, num gesto de paz, acreditei que havia de empurrar
o som distinto do teu nome para além da fissura labial
e reencontrar a tua doçura
mesmo que só o perfume te denunciasse, acreditei
que sem abrir os olhos poderia sentir esse teu movimento íntimo
como o bater de umas asas, gentil, descascando frutas de cores impossíveis
frescas promessas de sumo, vida, sentimentos
esvaziados de vãos pensamentos e outros enfados,
procurei-te... até sentir a estaca onde finalmente letras estranhas
salientes debaixo dos meus dedos anunciaram

Welcome to the Horizon Line!

uma terra de estrangeiros, nos confins do mundo onde nem se fala
nem se escreve, nem se pensa o português, língua dos nossos desejos sem tradução
um lugar armadilhado de espelhos frios, onde tudo não passa de um reflexo
e onde gente perdida sorri pedindo direcções
- foi aí que eu primeiro me senti inseguro, ameaçado
pela distonia desses animais incompreensíveis, abri os dois olhos, vi-os
empunhei uma faca e apontei-a aos seus olhares enviezados,
depois deslizei a lâmina sobre eles e cultivei de sangue essa terra,
menos por fúria do que por tristeza,
fiz uma guerra gritar pelo teu nome e quis ficar de pé
entre todos, só
até que me visses ali cercado por corpos
como um terrorista com uma mensagem de amor em português

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