terça-feira, julho 03, 2007
Dentro ou fora
Vem assomar-se sobre mim
anula os seus olhos nos meus
e como um espírito à janela
lança-se para longe da morte,
debruça os sombrios cotovelos
no meu parapeito e nunca
se interrompe no seu reflexo.
Dir-me-ás logo que os mortos
não têm reflexo e eu não discuto
não têm reflexo, a não ser assim
por brevíssimos momentos
quando enfrentam a janela
nos nossos olhos e procuram
as imagens em movimento
daquilo que ainda continua
deste outro lado, triste.
Depois os olhos embaciam
alguma da tristeza goteja
e parece que as memórias
se derramam através de nós,
escorre um arrependimento
e por aí eles recuam
deixam-se abraçar pelo escuro
e descem o poço de sombras
que a nós só nos deixa
um balde de silêncio
para matar a saudade.
Assim prosseguimos sós
sem sabermos ao certo
se o que nos mata
nos atira para dentro
ou nos deixa de fora.
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