terça-feira, julho 03, 2007

As coisas fingidas

Ele bebe coca-cola num copo alto e de fino de cristal. Usa talheres de prata para arrancar pedaços de carne dos ossinhos do frango grelhado. Acompanha o frango com batatas fritas de pacote. E à sua frente tem uma tipa maquilhada, vestida com roupas de marca e com quem tenciona casar-se. Já a consegue imaginar a chegar junto do altar, com o seu sorriso de atrasada-mental, num imenso vestido branco... E no entanto nem toda a brancura desinfecta do mundo poderá esconder o facto de que não passa de uma putinha provinciana que não sabe falar direito e que tem também essa mania que vai ser uma estrela da música pop ou aparecer na televisão. Os dois entreolham-se com ares de afectada paixão e julgam-se grandes amantes porque ele o consegue dizer à boleia de versos desmedidos com noções emprestadas de grandes poetas mortos.

O amor é uma coisa linda, mesmo quando é fingido. Aliás, especialmente quando é fingido, porque o amor que se finge é aquele em que mais é preciso acreditar. Se não somos nós a acreditar nele ninguém mais acredita.

1 comentário:

elouise disse...

Impressionante!
Não sei se dizes essas coisas (do amor) por dizer, mas olha que essas coisas acontecem!