segunda-feira, junho 25, 2007

Vers de société

Eu e a minha mulher convidámos uns merdosos
Para virem esbanjar o tempo deles e o nosso:
Não quer juntar-se a nós? O raio que te parta, amigo.
O dia vai chegando ao fim.
A lareira a gás respira, as árvores agitam-se obscuramente.
E é assim: Caro Warlock-Williams, Lamento...
É curioso como custa estar sozinho.
Metade dos serões, se quisesse, podia passá-los
Baliçando um cálice de xerez, e inclinado
Para ouvir o palrar de uma gaja qualquer
Que nunca leu mais que revistas de mulheres;
Pense-se em todo o tempo livre que fluiu
Directamente para o nada ao ser preenchido
Com garfos e faces, em vez de ser retribuído
Sob um candeeiro, ouvindo o barulho do vento
E olhando pela janela para a lua minguante
Como lâmina afiada pelo ar.
Uma vida, e contudo em tom sério se declara
Que toda a solidão é egoísta. Ninguém hoje
Crê no eremita com o seu prato e capote
A falar com Deus (que também partiu); o que mais se quer
É ter gente simpática connosco, e isso requer
Que de algum modo se retribua.
A virtude é social. Trata-se, então, com estas rotinas,
De fingir que se é bom, como ao ir à igreja?
Algo que aborrece, que não fazemos bem
(Perguntar àquele asno pelo seu estudo imbecil),
Mas tentamos sentir, porque, mesmo toscamente,
Nos mostra como deveria ser?
Subtil, por demais. E correcto demais. Que diabo,
Só os jovens podem estar sós todo o dia.
Agora o tempo escasseia para ter companhia,
E sentar-se junto ao candeeiro traz, as mais das vezes,
Não a paz, mas outras coisas.
Para lá da luz sussurram o fracasso e o remorso:
Caro Warlock-Wiliams: Será com muito gosto...

- Philip Larkin

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