(...)estou impaciente, com vontade de abordar alguém
e pedir-lhe direcções para um lugar que não existe.
Apetece-me disparatar, transtornar o meu eixo
arriscar a mão no ombro de um desconhecido.
Preciso saber mais nomes do que os que sei
preciso esgotar ao menos um dia e ao deitar
sentir que a noite pesa demais para pensar.
Tenho o ar de quem está cansado há tempo demais
cansado de fazer só o que quero, o que me apetece
o que me habituei e me parece bem. O meu enfastio
tem uma bocarra que me mastiga, sou uma pastilha já sem açúcar
e ainda há força para insistir nisto! Porra, quero que me calem a boca
com um beijo
e eu quero que esse beijo me leve os lábios, a pele, os olhos
os sentidos todos, como uma droga que me viole as crendices
as pequenas certezinhas deste pudor embalado pela razão
quero uma emoção que me persiga com um gancho para me arrebanhar
e quero quero quero uma mão que me puxe os cabelos todos até
me fazer sangrar o cérebro contra o meu espelho inquebrável
mas tenho medo, tenho medo que depois do espectáculo horroroso
os meus dedos ainda encontrem um jeito
de deixar no sangue, sobre o espelho, uma nota de suicídio
para dar um sentido ao non-sense de uma despedida da vida
que eu só quis porque não me lembrei de uma última linha
na minha lista das "coisas que antes de morrer não farei".
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