"Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.
Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me deles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio."
Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me deles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio."
- Fernando Pessoa
2 comentários:
É essa sensação que tenho quando vejo as minhas fotografias antigas: «Esta pessoa já não existe!» Aliás, isto é a prova de que se morre a cada instante embora só nos apercebamos disso quando passa um tempo considerável, porque então a mudança visível é indiscutível.
Aliás, isto do tempo é como ver um caracol a subir uma parede: parece que mal se mexe mas se nos distraímos e depois voltamos a olhar, ele já lá não está. Por isso eu quis ter aqueles quadros dos homens caracóis, porque representam isto.
é uma sensação estranha, acho que é vulgar mas não deixa de ser estranha, ao ponto de desistirmos de pensar seriamente nisso porque é algo que nos diz coisas que nos incomodam ou contradizem. E daí talvez seja mesmo suposto ser assim...
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