
Às vezes, um texto, posso começá-lo por uma palavra e depois tentar justificar porque foi essa que me surgiu primeiro, porquê essa palavra agora? O porque sim é sempre um novelo que tem mais ou menos o tamanho das nossas mãos, podemos segui-lo de uma ponta até à outra, deixando as letras desembrulharem o que ainda não sabíamos mas queríamos dizer.
Normalmente eu sou a favor de uma história simples, tipo narrativa de eventos que se identifiquem num princípio, um meio e um fim. Além disso ainda preciso de uma noção conclusiva, uma moral ou uma lição qualquer que justifique aquilo que acabei de tocar... Mas quando escrevo raramente começo por ter alguma coisa para vos contar, é tão raro que quando acontece sinto-o de forma tão autónoma que parece que o escrevo como se fosse um simples porteiro que abre a porta para deixar passar aquela ideia ou história que não se soltou com graça de dentro de mim.
Se soubesse que seria lido teria um prazer imenso em escrever um livro inteiro de coisas que me aflorassem à pele e escorressem pelo fio do novelo que as minhas mãos desembrulham. Já o disse e volto a insistir neste ponto: Eu não consigo escrever só para mim porque não tenho paciência nem vontade, ou sequer razão... Há muitas razões para alguém escrever para si mesmo mas neste caso o alguém sou eu, e eu não sou alguém que fique muito tempo na sala de cinema onde passa o filme da minha vida em que participei com as legendas. Eu prefiro receber visitantes, ficar à porta a assistir à reacção das pessoas e sinceramente (e tenho pena de dizer isto) não me interessa o que vêm, desde que gostem. Eu sofro de uma espécie de voyeurismo em 2º grau. Tenho curiosidade em relação à curiosidade que os outros podem ou não ter quando o assunto diz alguma coisa sobre mim.
As conversas e os temas que me interessam são aqueles que de alguma forma me esclarecem não sobre qualquer coisa em si mas sobre a minha relação com essa coisa. Se não tenho relação com a coisa ela desinteressa-me.
Isto parece-me que reflecte antes de mais uma qualidade imatura de quem ainda está muito introvertido. E deixem-me que lhes diga que é uma terrível limitação no campo social. Óbviamente cada pessoa é uma vida e o trabalho de as fazer desconcentrarem-se das suas para partilharem da nossa é uma tarefa que além de complicada usualmente descamba no ridículo. Ao mesmo tempo esse esforço desfigura-nos e começamos a ficar fartos das caricaturas de nós mesmos, que oferecemos a todas as pessoas que nos cruzam tentando constituir um tipo identificado de pessoa que no fundo só somos nalguns domingos ou terças e mesmo assim só da parte da tarde.
No meio da confusão que se gera na feira que montámos para nós próprios o mais difícil é entre gritos mais graves e outros mais agudos saber qual é a voz que realmente está a chamar por nós.
Eu já não sei, há muito tempo que deixei de saber... Talvez o meu pai, a minha mãe, os meus irmãos, os amigos não sei...
Tenho dois amigos e são amigos porque Deus mos enviou e eles o que sabem de mim foi por conversas que Deus teve com eles enquanto os encaminhava para cá, de resto não sei bem como são assim tão meus amigos, eles não me explicam, simplesmente são. De resto as outras pessoas são como bancos em que me sento quando estou cansado de andar. Depois canso-me de estar sentado e começam a doer-me as costas e então levanto-me de novo e eles ficam. A mim pouco me fica deles, pouco mais que um nome e esporádicas recordações.
Além disso tenho a minha namorada que me vira do avesso e me faz sentir uma esfera que rebola entre o tudo e o nada. É bom porque me dá a mão e me leva às vezes para dar umas voltas fora de mim, momentos que aprecio mais que todos os outros, mas preciso sempre da mão dela. Sem ela falta-me a confiança para dar esses passos e por isso às vezes assusta-me mais do que me conforta.
(A estúpida da internet agora falhou-me e eu perdi o fio à meada... Vou tentar continuar)
O que sinto é que estou ansioso que chegue a altura de mandar as pessoas para as suas casas, fechar a feira... Mas depois quando acordo e ando pelo espaço vazio sinto-me triste, desolado, sem nada que me apeteça fazer. É como se a minha vida nem sequer fosse de verdade se não tivesse as testemunhas. Deve ser isto a vaidade, no meu caso é uma doença degenerativa que já me tomou o cérebro e luta para me comer o coração.
O Melhor Amigo... É um nome simples não é? Com o tempo fui percebendo-o melhor. Sei agora que é o meu complexo, a minha doença congénita... Se encontrar cura despeço-me de voçês e vou para o lugar onde os olhos não chegam e onde se vive sem ânsias desmesuradas - uma vida serena de quem só procura passar, atravessar o rio que nos faz chegar à margem onde o Tal, que é mais que apenas alguém, nos vem finalmente recolher.
Hoje escrevi isto...
Normalmente eu sou a favor de uma história simples, tipo narrativa de eventos que se identifiquem num princípio, um meio e um fim. Além disso ainda preciso de uma noção conclusiva, uma moral ou uma lição qualquer que justifique aquilo que acabei de tocar... Mas quando escrevo raramente começo por ter alguma coisa para vos contar, é tão raro que quando acontece sinto-o de forma tão autónoma que parece que o escrevo como se fosse um simples porteiro que abre a porta para deixar passar aquela ideia ou história que não se soltou com graça de dentro de mim.
Se soubesse que seria lido teria um prazer imenso em escrever um livro inteiro de coisas que me aflorassem à pele e escorressem pelo fio do novelo que as minhas mãos desembrulham. Já o disse e volto a insistir neste ponto: Eu não consigo escrever só para mim porque não tenho paciência nem vontade, ou sequer razão... Há muitas razões para alguém escrever para si mesmo mas neste caso o alguém sou eu, e eu não sou alguém que fique muito tempo na sala de cinema onde passa o filme da minha vida em que participei com as legendas. Eu prefiro receber visitantes, ficar à porta a assistir à reacção das pessoas e sinceramente (e tenho pena de dizer isto) não me interessa o que vêm, desde que gostem. Eu sofro de uma espécie de voyeurismo em 2º grau. Tenho curiosidade em relação à curiosidade que os outros podem ou não ter quando o assunto diz alguma coisa sobre mim.
As conversas e os temas que me interessam são aqueles que de alguma forma me esclarecem não sobre qualquer coisa em si mas sobre a minha relação com essa coisa. Se não tenho relação com a coisa ela desinteressa-me.
Isto parece-me que reflecte antes de mais uma qualidade imatura de quem ainda está muito introvertido. E deixem-me que lhes diga que é uma terrível limitação no campo social. Óbviamente cada pessoa é uma vida e o trabalho de as fazer desconcentrarem-se das suas para partilharem da nossa é uma tarefa que além de complicada usualmente descamba no ridículo. Ao mesmo tempo esse esforço desfigura-nos e começamos a ficar fartos das caricaturas de nós mesmos, que oferecemos a todas as pessoas que nos cruzam tentando constituir um tipo identificado de pessoa que no fundo só somos nalguns domingos ou terças e mesmo assim só da parte da tarde.
No meio da confusão que se gera na feira que montámos para nós próprios o mais difícil é entre gritos mais graves e outros mais agudos saber qual é a voz que realmente está a chamar por nós.
Eu já não sei, há muito tempo que deixei de saber... Talvez o meu pai, a minha mãe, os meus irmãos, os amigos não sei...
Tenho dois amigos e são amigos porque Deus mos enviou e eles o que sabem de mim foi por conversas que Deus teve com eles enquanto os encaminhava para cá, de resto não sei bem como são assim tão meus amigos, eles não me explicam, simplesmente são. De resto as outras pessoas são como bancos em que me sento quando estou cansado de andar. Depois canso-me de estar sentado e começam a doer-me as costas e então levanto-me de novo e eles ficam. A mim pouco me fica deles, pouco mais que um nome e esporádicas recordações.
Além disso tenho a minha namorada que me vira do avesso e me faz sentir uma esfera que rebola entre o tudo e o nada. É bom porque me dá a mão e me leva às vezes para dar umas voltas fora de mim, momentos que aprecio mais que todos os outros, mas preciso sempre da mão dela. Sem ela falta-me a confiança para dar esses passos e por isso às vezes assusta-me mais do que me conforta.
(A estúpida da internet agora falhou-me e eu perdi o fio à meada... Vou tentar continuar)
O que sinto é que estou ansioso que chegue a altura de mandar as pessoas para as suas casas, fechar a feira... Mas depois quando acordo e ando pelo espaço vazio sinto-me triste, desolado, sem nada que me apeteça fazer. É como se a minha vida nem sequer fosse de verdade se não tivesse as testemunhas. Deve ser isto a vaidade, no meu caso é uma doença degenerativa que já me tomou o cérebro e luta para me comer o coração.
O Melhor Amigo... É um nome simples não é? Com o tempo fui percebendo-o melhor. Sei agora que é o meu complexo, a minha doença congénita... Se encontrar cura despeço-me de voçês e vou para o lugar onde os olhos não chegam e onde se vive sem ânsias desmesuradas - uma vida serena de quem só procura passar, atravessar o rio que nos faz chegar à margem onde o Tal, que é mais que apenas alguém, nos vem finalmente recolher.
Hoje escrevi isto...
2 comentários:
Pois eu nunca quis ter um blog porque depois não sabia como havia de sair sem sofrer muito. Tudo o que temos nos prende, dizem os budistas e eu sou muito atento a isso. E também não desamparo amigos portanto tava f*dido. Mas é tudo uma questão de atitude mental, onde vive a liberdade, deve haver quem consiga fechar um blog em festa, ficam lá os arquivos para revisitar. Tu estás a sentir-te mal por causa dessa porra dos exames! Mas que posso eu dizer disso? Ou assumes que não é Direito que queres e abandonas o curso, ou atiras-te a ele.
É um disparate pensares que lá porque chumbaste um ano és um falhado, um looser, um misfit.
Eu também chumbei um ano porque andei metido na política e nunca tinha chumbado na vida, era altura de experimentar. E não foi isso que me impediu de vir a ser PhD.
Agora fiquei contente de saber que tinhas namorada! Já me sinto mais sossegado.
Eu não sei se sou dessas pedras que te sentas em cima, ou se me consideras um dos teus amigos. Nesta última hipótese eu não sou amigo das pessoas por causa disto ou daquilo, mas penas porque gosto delas, sinto ternura, a palavra certa é amor (mas tu apagaste isto uma vez a pensar em sexo).
Mas o texto mais uma vez está muito bonito e profundo. Precisas muito do reconhecimento dos outros, mas na tua idade é natural, e as reflexões existênciais que fazes ajudarão outros a encontrarem-se. Quando estiveres a adormecer sózinho deixa-te sentir na tua pele milhões de beijinhos muito leves, todas as estrelas do céu vêm dar-te um beijoca levezinho.
E depois de acordar é ir para a batalha.
Enviar um comentário