quinta-feira, junho 28, 2007

Alarmismos

Voltando atrás para repescar um tema que cruzou do espaço do blogue da Atlântico para aqui, eu queria concretizar melhor algumas ideias que ontem não ficaram absolutamente explicitadas e que permitiram depois um artigo interessante e bem escrito do Carlos Carapinha mas que no fundo vai apenas de encontro a um plano limitado dos aspectos que eu quis avultar na discussão que propus.
Tenho lido muitos artigos em que se fala de forma peremptória sobre o imperativo de defender a liberdade e a cultura ocidental face aos ataques vindos de uma comunidade oriunda do médio-oriente que muitas vezes (mesmo aqui nos países ocidentais) ultrapassa os limites e expressa o seu ódio contra algumas perspectivas que lhes parecem ofensivas da sua própria cultura, crenças, religião, lálálá...
O que a mim me interessa não é considerar que estamos perante um bando de imbecis que têm que ser educados, não, os radicais e fundamentalistas vivem integrados nas sociedades ocidentais como nas dos países do médio-oriente. É claro que só um plano que nos permita acreditar que no futuro as pessoas não quererão viver fechadas na ignorância é que nos permitirá supor que essas tendências podem recuar e ter uma importância insignificante nas nossas estruturas sociais. Mas isso não vem ao caso.
Não me interessa falar em termos inconclusivos. Ontem o que fiz foi criticar uma atitude que notei mais uma vez num dos rapazes (inscrito naquilo que apelidei de "nova direita" - daí a relevância do espartilho ideológico que estendia a minha crítica não a um qualquer mas a um bando) que por virtude da sua inserção numa afirmação comum, mais ou menos caracterizada e por vezes esclarecida ajuda a disseminar algumas ideias que no caso considerei nefastas.
Afirmei e mantenho que a intervenção do Carlos é de uma inutilidade agressiva. Deixando o rapaz de parte quero explicar porque disse isto: acredito que se um texto de opinião resulta numa asserção de factos ou noções cumulativas para depois fazer uma reinvestida num sentido que é o de intolerar certos abusos que (concordamos) têm sido cometidos em desrespeito da liberdade e saúde da nossa necessidade de expressão, então, parece-me que estamos apenas a insistir numa dificuldade que já foi diagnosticada e compreendida. Estas macaqueações de quem vai escrevendo para mostar opinião não deixam que o ar passe e seque a ferida.
Quando leio estes artigos sinto que estamos a levantar crostas. Ainda bem que se reconhecem certas nocividades mas a nossa liberdade não corre perigo de fora para dentro e sim ao contrário.
O exemplo dos americanos é uma piada que os deuses devem contar uns aos outros sempre que saem à noite. Estamos a falar de uma sociedade que vive numa situação de alarme constante e que a determinada altura cedeu nos seus direitos para "comportar" as prevenções de um perigo que nunca foi tão sério. Agora aquela sociedade (livre) vive com um complexo rídiculo que não permite ver outras coisas que estão para além da lógico do agressor bárbaro. Permite isso sim abusos de quem se aproveita do medo para orientar políticas económicas expansionistas com uma fachada, ou seja, como se fossem batalhas pela salvação da humanidade livre.
Isto é um mundo, muito mais difícil é dizer que isto somos nós contra eles. Mas começa a soar cada vez mais a isso. É difícil apontar o dedo a alguém mas é possível relativizar estes exageros jornalísticos. O que muitos querem é fazer-se ouvir e para isso andam por aí a disparar alarmes... Os rapazes do lado de lá não nos vão fazer mal nenhum, eles têm mais problemas que nós. Problemas às vezes até com terem comida, o que vestir ou onde dormir, nós aqui estamos muito bem, com demasiado tempo nas mãos e desperdiçamo-lo a inventar preocupações.
Por isso acalmem-se lá que não são eles que vão entrar por aqui adentro e dar cabo disto tudo. Já eles não podem ter a mesma certeza em relação a nós.

2 comentários:

Unknown disse...

A sua opinião está escrita num português elegantíssimo, parabéns por isso, a leitura é agradável e envolvente,mas para além disso, mas quanto ao conteúdo, Pangloss não faria melhor.

Em 1979, Tatcher leu chegou ao poder depois de ler o "Caminho da Servidão" e o Ayatollah Rouhollah Khomeini leu o Corão e apoderou-se do Trono do Pavão, no vórtice de uma revolução centrada na madrassa de Qom
A revoluções de Tatcher apontava para um mundo de livre comércio, a do aiatola para um mundo ancorado na palavra de Alá.
A primeira pivoteava em torno do lucro, a 2ª em torno do Profeta.
A 1ª visava um futuro melhor que o passado,a 2ª um futuro igual ao sonho do passado.
Numa, as forças do mercado encorajaram as mulheres a trabalharem e a emanciparem-se, noutra as forças da sharia, reforçaram a pressão sobre as mulheres, reenviando-as para casa.

Os resultados?
Na economia o RU é hoje muito mais rico e moderno.
O Irão não.
O seu optimismo parece justificar-se...mas olhemos melhor.


Em termos demográficos, o resultado é sombrio e é pela demografia que passa a linha da frente da guerra civilizacional.
Em 1950 o RU tinha o triplo da população iraniana. Em 1995 já a do Irão era maior e continua a crescer a uma taxa 7 vezes superior.Não é só o Irão...
O Islão está a vencer a guerra, perante uma Europa que se suicida moral e demograficamente.
Por todo o Magreb a população cresce também a um ritmo 7 vezes superior ao da margem norte do Mediterrâneo.
A Europa, sedenta de imigrantes para conseguir manter a sua força de trabalho e o estado social que nela se ancora, está a ser paulatinamente colonizada, pelas massas muçulmanas que sobem do Magreb.
Há 50 anos a fronteira entre o Islão e o Ocidente, situava-se na Bósnia. Hoje passa pelas principais cidades europeias.
Bernard Lewis profetizou que no fim do séc. XXI, a Europa estaria transformada na Eurábia, maioritariamente habitada por muçulmanos.
O terrorismo islâmico que nasce no seio das comunidades muçulmanas, mostra que existe um novo inimigo dentro de portas, que nos odeia e nos considera decadentes e indecentes.
A História ensina-nos algo. Há 100 anos, num mundo altamente globalizado, a migração massiva fez-se acompanhar por grandes tensões étnicas no território da Eurásia.
As consequências finais foram desastrosas e em 1914 a 1ª globalização acabou aos tiros.
Só Pangloss acreditará que desta vez não hipóteses de tudo acabar do mesmo modo.
Na sua obra emblemática, Gibbon adentra-se pela história contrafactual e escreve que se o Islão não tivesse sido derrotado em Poitiers, em 732, “talvez a interpretação do Corão fosse agora ensinada em Oxford”
Gibbon dizia isto em tom irónico.

Não o diria hoje no mesmo tom ao contemplar o Centro de Estudos Islâmicos de Oxford e o seu “salão de orações”, encimado por uma abóbada e um minarete, e ao ver nos Comuns um deputado eleito por uma estranha coligação de esquerda radical e islamismo (Respect).

Uma coisa é ser optimista..outra é fechar deliberademente os olhos para que todos os gatos sejam pardos

Diogo Vaz Pinto disse...

muito muito interessante.
mas eu tenho a opinião que eles vão ser ensandwichados por nós e depois comidos.