
1
A criança pregou o sol à parede
mas descontente com a posição
muitas vezes o mudou de lugar
e de tanto o carregar na mão
queimou-se
2
o sol
apagou-se
3
no canto do olho tinha um preso
um desgraçado bailando na cela
com uma corda no pescoço
não parava de saltar
mas caía no chão, magoava-se
e voltava ao mesmo lugar
4
tinha
um brilho
só seu
um satélite particular,
a posse completa
da sua desilusão
5
era pontual o desabafo
sempre à roda do cinzeiro
percorria-o com o cigarro
como um enorme ponteiro
6
puxando os bolsos da tristeza
procurava no avesso uma moeda
que lhe comprasse qualquer alegria
para lhe recordar a beleza
de um sorriso perdido
7
o rapaz tinha
um reflexo lunar
investido numa gota
que ele fingia que lhe chegava ao olho
vinda da imensidão do próprio mar
9
bem longe dali
um peixe questionava a linha
do anzol que a lua deitava
nas costas azuis do sonho
que embalava outra criança
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