domingo, outubro 15, 2006

Thank you for bringing rock n' roll back to the world!



E neste momento estamos a precisar de uma vida nova que nos leve para outro lado, mesmo que seja de volta...

Quando os Nirvana subiram a rampa do sucesso e se instalaram na tendência mainstream - levando consigo uma série de projectos com conteúdo e qualidade que já estavam nascidos e à espera de uma chance, bandas que também surgiam da cena grunge de Seattle no final dos anos 80 e inicios de 90 - nesse tempo as pessoas andavam metidas com um estilo de música muito pop sem mensagem, um estilo que investia tudo na aparência, na forma e deixava o conteúdo ao acaso; estou a falar de artistas como o Michael Jackson - não há grande discussão à volta da importância do seu estilo cheio de interesse de uma perspectiva que dá mais importância à construção do espectáculo em que a música surge na base para ajudar a criar um efeito de luzes e movimento que faz o corpo desejar uma pista de dança e uns sapatinhos rídiculos que o deixem deslizar...
As pessoas na generalidade estavam desencontradas com o espírito da música comercial na altura, não havia uma voz a cantar para um conjunto de teenagers que procurasse na música um pedaço da sua identidade, tudo o que a música mtvioleira produzia eram imagens de uma realidade superficial onde tudo estava bem com toda a gente muito alegre ao som de ritmos demasiado sincopados... Quando de repente surge no amplificador uma série de acordes numa dinâmica de distorção com uma voz sofrida a atirar palavras que de uma forma misteriosa pareciam esconder segredos e revelações sobre a juventude e o mundo, e a juventude a crescer no mundo.
Kurt Cobain acabou por se tornar o poster dessa nova era que durou quase uma década...

Mais tarde os novos rockers, que receberam o legado deste novo rock com a cara suja, não souberam como mexer nos instrumentos e pensar as ideias para sugerir novos sentimentos inspiradores e nos EUA já começava a despontar uma nova cultura que no embrião tinha imensos valores e aspectos interessantes e também muito modernos que apontavam para uma nova revolução musical... O Hip Hop.
Enquanto o Hip Hop se manteve num jogo de rua e de clubes underground, para uma massa de público que estava perto das experiências daquelas vozes que gritavam poemas sem a educação clássica mas numa onda e um estilo que representava a realidade difícil daquela gente, nesses tempos o Hip Hop foi uma arte útil, uma arte da expressão livre e independente, uma arte liberta e denunciadora, prometia muito.
Hoje no mainstream temos uma ideologia musical que supostamente é muito livre e sem fronteiras, uma ideologia que nos fala de uma tamanha liberdade em que os géneros morrem e todos os elementos se misturam para definir um género maior, um género aberto que aprende com tudo e que chupa as qualidades de tudo para realizar produtos de grande interesse para o público; mas isto tudo é mentira claro.
Não temos género, a música está a fazer de nós orfãos, as vozes e os ritmos podem ir buscar isto daqui e aquilo dali mas no fim acaba por ser tudo novamente um estilo de arte pop que quer agradar a todos e na verdade não temos nenhuma realidade identificada - voltamos aos temas mais vulgares, o dinheiro, fama, sexo, e continua a descaracterização dos géneros a favor de uma universalidade sonora que já começa a cansar e que terá que ser varrida, até porque esta geração não é pior ou mais parva que as outras mas não deixa de ser constituída por uma maioria de gente com fraco gosto e com tremenda incapacidade de procurar novas saídas para a identificação com um estilo artístico.


Vejam esta entrevista e esta outra entrevista com a banda (nirvana) que dá uma boa ideia do espírito da coisa.

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