Princípio, conveniência e fim

O Fim
devia ser obrigado
a chegar sempre
no momento mais inconveniente
Porque a vida
é toda ela tão conveniente...
E tudo o que convém vive
e o que inconvém morre
Mas nem tudo o que vive
chega a ser inconveniente
Contudo tudo o que mais fascina na vida
é a diferença, a mudança, a novidade
E antes que a vida arranje forma de a convir
há um momento mágico e difícil em que
de costas voltadas para a vida e para o mundo
alguma coisa se torna inconveniente
e agride as conveniências chatas desta vida
Um por um cada um mergulha na diferença
respira a mudança e suga a novidade...
E quando a novidade já não é nova
E a mudança já não muda nada
E a diferença se tornou igual
O que era inconveniente
já convém
E esse é o fim de cada coisa
O abraço do mundo
A conveniência.

Mas se o fim fosse inconveniente
as pessoas ainda estariam insatisfeitas
insaciadas, irrequietas, sós...
Porque esta mentira
que encontramos no meio da vida
é uma assassina que não mata
paralisa.

Nascemos sós e morremos sós
Mas vivemos juntos e partilhamos
E quando todos partilham
já não sobra nada
nem para um
nem para ninguém.