
"O único método infalível para conhecer o próximo é julgá-lo pelas aparências"
- Amurri, A.
Muita gente virá dizer logo que não, precisas de te aproximar mais, ver com mais atenção... Mas isso não espelha nada a não ser dúvidas próprias, no fundo a maioria ainda se debate por dentro com essa mesma questão de aceitação ou rejeição da hipótese que é a da confiança no valor e interesse pessoais... Se te pedem que vejas com os olhos mais abertos então é porque não estão seguros, na verdade o que brilha vê-se mesmo por trás das pálpebras quando os olhos estão fechados; o que é realmente bom desperta-nos, acorda-nos mesmo da cegueira em que caímos depois de muito tempo sem precisar dos olhos... Uma criança pode chegar a adulta e esquecer-se daqueles primeiros fogos que lhe encheram a vista, o mundo celebrando através das pessoas que o enchem. Mas a criança cresce, o mundo regulariza, vulgariza-se, a criança perde interesse, conhece a apatia e deita-se, adormece não já porque lhe mandaram mas porque já não lhe apetece andar por aí toda agitada à procura, puxando mangas, atirando perguntas... Já sabe as respostas, as que não são já evidentes já foram respondidas num tempo mais útil e as outras ela própria pode equacionar e resolver de forma satisfatória... E então entramos na “consciência de si”, cada um quer ser dono das respostas, respostas melhores e mais adequadas, perguntar é sinal de fraqueza, é de se olhar para os outros e os desclassificar imediatamente – e isso não é errado porque “eles” são iguais mas apenas mais que “eu”... A criança estupidifica-se porque arrota a simplicidade quando antes respirava-a, agora feita adulta cresceu uns palmos ganhou alguns traços de distinção mais notáveis e acha-se. O adulto acha-se grande, acha-se maduro, acha-se um fruto pronto para ser liberto dos ramos da árvore grande e dar origem a nova árvore de frutos que se alimentam das suas raízes... Mas aqui não há pai, não há mãe, nem avós, talvez irmãos e primos mas ninguém está por cima, hoje em dia não.
Tirar-lhes as medidas pela aparência sim, claro que sim. Num lugar caústico em que todos se arrogaram (até nós mesmos claro) não podemos confiar em ninguém a não ser no nosso próprio sentido de orientação ao mesmo tempo que devemos levantar as mãos para o céu e pedir que ele se abra e nos abra uma luz sobre a consciência, uma luz que nos abra os olhos sobre a nossa própria casa e a casa dos outros, para sabermos olhar com olhos de ver, como gente grande e séria – o que as crianças assumem que os adultos devem ser. Estamos a enganá-las às crianças e a enganar-mo-nos a nós mas o caminho é feito de andar e se neste momento não se vê o chão é continuar até se ver...
Talvez estejamos a ir a algum lado...
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