
Matul-Crecia Crebina viveu o ano infame de 2011, o ano em que no seu país natal, a Zungabwana, o barão Xocaxeiro, ministro-chefe do governo de Zungabwana decidiu combater o problema de excesso de bocas para alimentar e falta de alimentos para as calar.
Zungabwana é um país-zinho africano muito pequeno, encolhido entre dois países maiores mas não muito melhores como é bem estandarte desse continente bruto... Este país onde nasceu Crebina resultava do ajuntamento dos territórios que pertenciam a duas mais ou menos temíveis tribos da zona, os Chu-cua-chu-cua-ré e os Fostimanos. As duas tribos arranjaram maneira de casar os filhos dos chefes, um dos quais tinha tido apenas dois filhos homens e o outro nove mulheres e um amaricado - ora assim cada um dos filhos homens do chefe Chu-cua-ré levou cinco das filhas do outro chefe e aquele que teve que levar com a abichanada (o mais velho) tornou-se líder quase todos os dias incontestado. Assim uniam-se os destinos de duas mais ou menos grandes tribos e nascia o estado africano dos Chu-cua-chu-fost-iré-manos mais tarde mudado para Zungabwana, nome do primeiro filho do novo líder.
E foi o filho do filho do filho da filha da filha do filho do filho do filho do filho do filho do irmão do primo do cunhado do filho bastardo, da prima afastada do filho... Que deu ao mundo a criançinha que um dia viria a ser o grandioso barão Xocaxeiro.
Ora Xocaxeiro não é rabachola - como o próprio fazia questão de repetir entre os seus - e não recuava perante os problemas, se o seu país precisava da sua atenção ele dava-lha toda. Quando deparado com esse grave problema de excesso de bocas para escassez de alimentos o Xocaxeiro tomou uma medida que veio inspirar o mundo e se tornou um dos passos políticos mais significativos que a história política conheceu - Xocaxeiro mandou o seu exército pessoal matar metade da população, a outra metade cozinhou os mortos e durante uns bons tempos comeram à fartazana, depois de pança cheia lá se puseram a trabalhar e o pouco que produziam dava-lhes para sobreviverem... Mas Xocaxeiro prometeu ao seu povo fiel que todos os anos em honra da sua medida heróica se celebraria esse dia em que a medida foi cumprida como feriado nacional, o dia do banquete, e haveria uma recriação do primeiro banquete com uns poucos ociosos que produzissem menos do que o que comiam a servirem de petisco.
Crebina era trabalhadora e nunca foi comida, comeu muitos amigos e até um irmão mais novo armado em preguiçoso. Cresceu, ficou grande, forte e saudável, tornou-se esperta e um dia teve uma quinta recheada de animais gordos que alimentavam o seu apetite voraz e nunca nunca deixou de participar nas festividades anuais do banquete...
Excusado será dizer que o povo de Zungabwana prosperou à sua medida e viveu feliz para sempre - ou quase porque depois lá foram invadidos por uns macacos, armados pelos americanos, que quiseram explorar a reserva de gás natural (que às tantas nem era nada de especial) do Zungabwana.
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