sábado, agosto 12, 2006

Beija-Mão



Se fez luz por fim depois de muitos dias a tentarem levantar o sol do chão... Finalmente resolviam esse medo que não houvesse outro dia como os de antes, seriam noites e noites e teriam que se habituar a deixar de pensar na noite que se seguia ao dia para verem o tempo passar sem o céu mudar.
Deu-lhes motivo para diversos pensamentos, imensos, intensos... Perderam nesses momentos de anseio qualquer virgindade sobre aquela possibilidade nova e assustadora como se quisessem já sobreviver o pior dos cenários, escuro e frio, o fim das sombras e da vista desarmada.
Uma preparação que os deixou duros, viraram-se uns para os outros e trocaram segredos em olhares, uma cumplicidade que os homens só encontram nos momentos piores. Reuniram-se com maior ordem que nunca, nunca discutiram, nem um grito ou uma voz mais alta se elevou, um imenso respeito por cada espaço e pela liberdade que havia para o preencher com alguma palavra que trouxesse algo mais que esperança... Esperavam que alguém se lembrasse de alguma coisa que poderiam estar a fazer, alguma coisa devia poder ser feita, afinal o mundo nascera para o dia e apenas se deitava com a noite, mas parecia-lhes agora que o dia estivesse a pensar não acordar novamente, morrer... E talvez (isto assustava-os sobretudo) o mundo estivesse a pensar acabar-se.
Não foi preciso ninguém falar. Houve um rapaz que se afastou dizendo apenas “já volto” e como não havia no escuro quem se quisesse impor aos outros deixaram-no ir e ele desapareceu no escuro sem deixar-lhes ideia do que pensava fazer.
O rapaz foi sem olhar, não interessava se os olhos estavam abertos ou fechados, caminhou sentindo qualquer coisa em si, não lhe era dado a saber se era um querer sentir ou se de facto o sentia mesmo, esse calorzinho de réstia, essa indicação meio difusa mas que ia apontado - em frente... E ele foi assim, já sem que lhe importasse realmente se seguia só um desejo ou se havia ali um lugar de encaixe para ee devolver o dia aos céus...
Desmaiado à beira de um lago não muito grande lá estava a estrela enorme e ele depois de a encontrar nem pensou ser difícil o que havia de fazer... Com as suas duas mãos puxou-o, acordou-lhe os sentidos e os raios floriram e queimaram-lhe as mãos.
Fez-se dia novamente e o caminho para junto dos outros ficou bem visível...
Voltou e todos lhe agradeceram e beijaram o que restava das suas mãos e nessa noite dormiram descansados e no dia seguinte tudo estava como dantes e nada estava diferente. O rapaz recebeu uma fita com uma pedra com inscrições gravadas e nunca mais a tirou...

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