Há esboços disto em tantos cadernos,
às vezes chama, voltas, arrancas as ervas
de entre as notas, para não se perder
sempre foste juntando fragmentos
mas de tantos meses de anos inteiros
por vezes nem o cadáver de uma lágrima
talvez um nome já frio se salvasse,
algum reflexo só e perdido,
sombras de ar, e de todo o tumulto
resta o ventre rasgado
as sementes no interior como um fruto
no fragrante bosque que mirrou distante
até caber numa legenda, subtil e poderosa
aí colhes a estranheza e o gume
de uns quantos detalhes, flores invertidas
o recorte indecente do que faz fronteira
com essas noites que tanto querias repetir,
e o vento vem volta de lá aleijado, fingindo
que lê as frases escritas sobre a matéria viva,
com a seiva cicatrizando-lhes o fulgor,
rostos turvos nos poços rodam
no sentido contrário à vida, o olhar
segue tão longe, tocando nos restos
da marca da inteligência humana.
Temos de deslocar interiormente esse
antigo órgão, hoje praticamente inútil,
para vir respirar à superfície tentando
cumprir algum ciclo misterioso.
A espécie perdeu-se, os ritmos interiores
ficaram por aí ilegíveis, sinais rudes
trabalhados em pedra ou osso, mas
é para eles que olhamos desejando
que alguém tenha podido dizer
algo directo simples e duro
uma maldição que engula tudo isto.