quarta-feira, outubro 28, 2020

 

programa o fantasma, de um a outro nó
da flor do trevo ao mar sonoro
e a cada passo, aqueles que estão acima
mais se riram de nós
só líquidos, versos, papéis rasgados,
para se ficar índio de ouvido encostado
a coisas distantes, o peito e o canto
de um pássaro absurdo de alto e tão firme,
força sagrada, suave, como as ondas
se alimentam, espuma
a morena é toda a instrução de que precisas
o cabelo gasto, vivo, de muito sal
luz apanhada fria, encordoada
suada cintilação tão escura
e se insiste que não pode ficar, nem será
tua, a que outros homens, que inveja
que corpos contas, imaginas, lês,
como a pureza na verdade tão puta
tem de ser para te ensinar alguma coisa
que outras águas mais fundas, e de todas
as vezes que se dispa, o mesmo susto
hoje só rumor no teu quarto, e a beleza
não será outra desculpa, estas mulheres
amam-se de costas, num terror invejoso
que aprende a rir-se, como a lâmpada 
no quarto lê o dicionário, balança-se,
devora insectos, e as cartas depois
textos que florescem no fogo, estrelas
de um cinema sórdido de bairro e doce
um filme que volta e meia se mete
e projecta nos lençóis, só fala baixo ou
então canta e acaba, porta entreaberta,
a água a correr, lavando-se de ti
como a vida e a morte ou a pergunta
por entre que mãos cairá a seguir?


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