sexta-feira, fevereiro 22, 2019

O vampiruças



O vampiruças da Porto Editora arranjou-se para ali com uma congestão, deu mais outras tantas voltas no imenso caixão onde organiza os saraus com a sua corte de sanguessugas de salão, e se o conde dentinhos tanto se eriçou foi porque lhe foi servido por fim o próprio reflexo. Não é para menos, afinal vai para séculos que não se via ao espelho, e diga-se que isto é bicho que noutra encarnação até deu uma de defensor do proletariado, coisas lindas, utopias e tal, bastou portanto uma espreitadela, mirou-se na pinta de monstrengo mal empalhado, a carcomer-se por aí, e foi o drama que se viu. O golpe só foi possível com uma receita das bruxas, não poupando no alho, mas se o nosfeliterato reuniu com a morcegada lá na torre do castelo transilvano, se a coisa não ficará por aqui, sempre podemos dar conta desse mítico engate a que se aludiu, mas muito levemente, no artigo sobre o Correntes D'Escritas, pois porque se não há habituê dos festivais que não tenha já gramado com a bazófia do drácula da Póvoa, há para aí muito quem vá ficando à margem dos happy few (fiu-fiu) que gozam da honra de privar com a nobre casta das nossas múmias, e assim vá perdendo o que mais interessa, os relatos de paixão tórrida com intervalos de sacanagem que animam os serões dos nossos festivais literários, o que, convenhamos, é uma pena, com tanta campanha, tanta promoção tão tosca, que nos escondam os aspectos suculentos. Pois se a Maria do Rosário Pedreira nos diz que um dos sentidos figurados do festival da Póvoa é "agência de casamentos entre gente das letras", cabe fazer aqui a nota de rodapé para explicar ao leitor com um nariz leigo para estes perfumes que o rei dos sem pinga de sangue e a sua noiva eterna se amantizaram lá atrás, nos séculos um ou dois dC. Era o Valente quem contava isto até com mais graça, mais pormenor, repetia-o a quem quisesse ouvi-lo resfolegar, a sua proeza romântica, como tudo começou, como se punha ao telefone do quarto do hotel a discar para cima e para baixo, a avisar: eu vou aí, dessangro-te toda, moça! E parece que estava uns andares por baixo da Rosário, que tocou primeira vez, e: subo?, reinaremos juntos num inferninho de letras que eu tenho bem catita para nós. E ela, guardando sua virtude: aí não, toda muito winona, e ele, raios!, desligando, ligando, ligando segunda vez, antes de tentar outro quarto, e foi à segunda que a Rosário já não resistiu mais ao encanto gélido daquela voz a cruzar e dar nós nos fios do hotel, a curtocircuitar toda a cidade, e diz-se que a luz falhava pela cidade de excitação, e enfim drácula trepou, tocou à porta, meteu-lhe os dentinhos, e assim ficou selado o pacto, e nasceu o maior power couple do meio literário português.

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