"O Coração", de Stephen Crane (1871-1900)
No deserto,
vi uma criatura nua, brutal,
que de cócoras na terra
tinha o seu próprio coração
nas mãos e comia...
Disse-lhe: «É bom, amigo?»
«É amargo - respondeu -,
amargo, mas gosto
porque é amargo
e porque é o meu coração».
(in As magias; tradução de Herberto Helder)
"É hora faminta", de Giuseppe Ungaretti (1888-1970)
É hora faminta, a tua hora, louco.
Arranca o coração.
Sabe o seu sangue a sal
E sabe a azedo, é adocicado por ser sangue.
Tornam-no, tantos prantos,
Cada vez mais saboroso, o teu coração.
Fruto de tantos prantos, esse teu coração,
Arranca-o, come-o, sacia-te.
Foi Vasco Gato, que está a traduzir a poesia completa de Giuseppe Ungaretti, ("Vita d’un Uomo, Tutte Poesie"), para a nova coleção «Itálica», da Imprensa Nacional, quem deu por esta curiosa similitude entre os dois poemas.
Sem comentários:
Enviar um comentário