sexta-feira, julho 27, 2018


A noite reúne-se ainda de um concerto dos mesmos demolidos instrumentos enquanto a fantasia resgata o desejo, e os muito poucos que seguiram com as suas vidas cruzam-se só por acaso, imitando os romanos (i.e. fumar e esperar). Não os inquietou mais a vontade de passarem por absolutamente modernos. Como gente de todos os tempos, exercem a velha preferência por mulheres bonitas, sobretudo loiras, pré-rafaelitas um tanto desbotadas. Vagos apreciadores de arte num museu semovente, é o que somos, até que as luzes terrenas se apaguem. Como astrónomos abismados, deitados lendo no firmamento velhos romances, estrelas que conhecemos como as passagens que nos fixaram furiosamente, histórias que escutámos certo dia e nos reescreveram a infância. Afinal, a memória é uma sombra. Qualquer luz a ameaça. Mais longe ou perto, pode até lançá-la noutra direcção. Assim, se os dias que restam não nos trazem mais que anúncios de extinção, deixa uma luz acesa. Aprenderá a abrir caminho sobre o passado para, desta vez, tomar a vida à força.

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