Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, “Bicho”, monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anti-crítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os “egozinhos de porta-aberta” do nosso meio literato. Se hoje raro se ouve falar dos livros sem ser na linha do critiquês, escarafunchando minúcias da treta, dando corda para análises de carrossel de feira, desviando a atenção dos melhores para os de segunda, ou baralhando, confundindo, e assim o ferro em tudo. É o modo que a “incompetência cósmica” tem de vir para o centro, esses que gostam de tudo e, afinal, como se sabe, não gostam é de nada, mas querem mostrar serviço. E põem no mínimo de si e das suas arguições uma estratégia de lucro pessoal. Porque hoje, não nos enganemos, a unidade monetária é um ratito de atenção. Ora, o mais avisado é dessa seita fugir, e inventar-se até mais que os sete pés para isso, baloiçar no fio de baba que nos cai da boca assistindo à infindável palestra dos sem tesão e saltar fora. E não é que a crítica séria tenha acabado – no jornal ou por outras bandas –, simplesmente não tem é vazão, perdeu o sentido; é falar para o boneco. Os críticos-críticos ainda vingam na academia, isto se tiverem paciência para o burocratismo imbecil que ali viceja. Já os artistas-críticos não vingam em porra de lugar nenhum. O que não os impede de prosseguirem os seus estudos de forma pacata, longe deste circo pindérico. Não eu que prefiro bater. E não me vão ouvir queixas quanto à falta de alvos, caça grossa ou pardalecos, mesmo pombos lerdos onde aguçar a pontaria. Assim, o meu “anti” é uma dedicatória a todos eles. É um fracasso, o mais espalhafatoso possível, sem estar voltado para a chinfrineira desses amanhãs que talvez ainda afinem e venham a cantar.
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