segunda-feira, março 26, 2018

Sobre as "pessoas boas"


A coisa que há a inferir quando uma taralhouca se incha muito para nos dizer que, entre tudo e tanto nesta vida, só gosta de pessoas boas, é que já foi fazendo o trabalho por Deus e as suas hierarquias, derradeiras instâncias. Esta considerou-se boa para entrar no céu, safou-se na lotaria do grande green card, não há cá juízo final para a mariazinha, que, de resto, foi também adiantando serviço e marcou já na caderneta que há-de levar com ela quem está verde, maduro e quem nunca prestou. O maior cansaço é o de quem anda a vida inteira a falar da que há-de vir. E à espera. Com certeza, mesmo chegando ao céu, formavam logo uma fila estas tristes santas, espreitando a curva, olhando o relógio, aguardando o autocarro que as leve para qualquer coisa mais elevada, e que se elevou para elas embora nunca à custa delas. "Pessoas boas". Só a ideia já soa a zumbido.

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