quarta-feira, dezembro 13, 2017


Querem um exemplo (real e recente) do tal simulacro de crítica literária que leva ao limite o elogio e não passa de bijuteria palavrosa em que é sempre possível trocar o nome do autor para servir com qualquer um?

«A inquietação deste drama advém precisamente dessa violência surda e insidiosa que se aloja a cada momento da sua ação, da sua estranheza que é construída por uma linguagem obsessiva e depurada, realçada por uma imagética impressiva e uma densidade metafórica assinalável. Podemos ficar envolvidos (ou não) pela estranheza desta linguagem, pela inquietação do seu universo ficcional, mas não ficamos imunes à contaminação que a sua leitura provoca. E se “[inserir título de obra anterior]” já revelava uma voz singular na ficção portuguesa contemporânea, com “[inserir título do livro em causa]” o nome de [inserir nome do autor] dificilmente poderá ser ignorado, inscrevendo-se numa linhagem de autores como Gonçalo M. Tavares, Rui Nunes, Jaime Rocha, Hélia Correia, Dulce Maria Cardoso ou António Lobo Antunes [se estiver para aí virado, aqui pode inserir outros nomes ao calhas]. Espreita-nos na sua obra o negrume de Dostoievsky e de Thomas Bernhard [e de Kafka, Faulkner, Céline, ou até de Asdrúbal] em todas essas figuras alinhadas pela constelação de uma escrita que tem o poder de nos dar o lado mais obscuro do humano e sem ilusões que a embelezem. Sem antídotos que a salvem.»

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