domingo, setembro 24, 2017


Morrer, mas longe.
Não aqui,
onde tudo é uma avessa
conspiração da vida,
até as outras mortes.

Morrer longe.
Não aqui,
onde morrer é já uma traição,
mais traição do que em outra parte.

Morrer longe. Não aqui,
onde a solidão descansa aos poucos
como se fora um animal estendido,
travando o seu impulso de loucura.

Morrer longe.
Não aqui,
onde cada um dorme
sempre no mesmo sítio,
ainda que desperte sempre noutro.

Morrer longe.
Não aqui.
Morrer onde ningúem nos espere,
onde haja lugar para morrer.

(para Jorge Luis Borges)

- Roberto Juarroz

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