quinta-feira, maio 25, 2017

Destino


Matamos o que amamos. O resto
nunca esteve vivo.
Ninguém está tão perto. A nenhum outro fere
um esquecimento, uma ausência, às vezes menos.
Matamos o que amamos. Que cesse esta asfixia
de respirar por um pulmão distante!
O ar não é suficiente
para os dois. E não basta a terra
para os corpos juntos
e a ração de esperança é pouca
e a dor não se pode dividir.

O homem é um animal de solidões,
cervo com uma flecha no flanco
que foge e de dessangra.

Ah, porém o ódio, sua fixação insone
de pupilas de vidro; sua atitude
que alterna entre repouso e ameaça.

O cervo vai beber e na água aparece
o reflexo do tigre.

O cervo bebe a água e a imagem. Torna-se
- antes que o devorem - (cúmplice, fascinado)
igual ao seu inimigo.

Damos a vida apenas ao que odiamos.

- Rosario Castellanos

Sem comentários: