terça-feira, janeiro 24, 2017

O regador e a prisão


Rego as plantas do poeta que guarda prisões
trepadeiras desmaiam, suculentas não obstante
medram, a erva-dos-gatos descabela-se
de um tupperware — pois terá havido
um gato e donos que fizeram filhos
e um caramanchão no terraço onde faz tempo
houve soalheiro remanso e excepção à tortura.

Nas estantes sem leitura restam muitos livros
e o aquecimento central continua em dia
sem gente intra-muros para tanta literatura
é melindroso: a inclinação para descorar
o viço, a ferrenha minúcia da agonia, as
celas quase vazias — como má transladação
o regador prolonga a pena, comuta a vida

- Margarida Vale de Gato

Sem comentários: