terça-feira, janeiro 10, 2017

Em 2016 a Língua Morta publicou oito livros:


A ORIGEM DO ÓDIO, de Rui Ângelo Araújo
CODA, de Miguel Alexandre Marquez
MOVIMENTO DE TERRAS, de António Amaral Tavares
LACRE, traduções e versões de Vasco Gato
FAZER DE MORTO, de Frederico Pedreira
A PEDRA-QUE-MATA, Poesia Japonesa, traduções de Luís Pignatelli
APARTAMENTOS, AAVV
SOMBRAS BRANCAS, traduções e versões de Jorge Sousa Braga 

Aí estão, contra a parede, os sacrificados do ano. Com a curiosa excepção de uma breve recensão na revista E (Expresso), em que o Pedro Mexia se aproveita da edição de "Lacre" para prosseguir as crónicas em que dá conta da sua vida de coleccionista de leituras poéticas (fazendo questão de sublinhar que já conhecia a maior parte dos poetas incluídos na selecção, isto sem que depois ou antes o volume lhe mereça qualquer apreciação crítica), cada um destes livros foi ostensivamente ignorado pelos agentes da operação de trânsito feliz nas cada vez mais secundárias estradas da literatura portuguesa. Já não há dois sentidos. Há um, e cada capela guarda zelosamente a sua estradinha de cabras, onde só passam as cabras de cada curral, algumas com dupla ou tripla nacionalidade, e um ou outro elefante, com cada vez maior dificuldade. A obliteração em curso é uma forma de punição aos editores da Língua Morta, mas afecta os autores, e, procurando tornar invisíveis estas edições, em última análise, quer dissuadi-los de publicar com este selo. Autores que em qualquer outra editora merecem alguma atenção, se aceitam dar-nos um livro sabem o silêncio que os cercará. Alguns leitores parecem estar-se já perfeitamente nas tintas para tudo o que se passa na intriga dos jornais ou das revistas, onde a guerra é feita pelo apagamento de tudo o que não alinha com o esquema em pirâmide que cada uma promove. Esses leitores esgotam-nos as edições. O nosso agradecimento é expresso apenas e só através dos livros, em que continuamos a perder tempo e dinheiro. A nossa esperança é que novo sangue conquiste posições e obrigue ao fim desta obstrução, porque o maior problema hoje na poesia portuguesa é que, mesmo se todos os anos se publicam bastantes poemas dignos, estes surgem já do lado da ficção, como vozes numa encenação teatral. É com muita pena que, ano após ano, confirmamos a degradação do ambiente, e se há cada vez mais actores, os poetas neste país começam a parecer aparentados com os unicórnios.

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