sábado, outubro 15, 2016


Mau-mau é o momento em que o mundo fica todo redondo em volta de uma questão como plateia em concerto, um magrela espinhoso no meio, a trepar e descer dos deuses, e à volta um mar de cabeças numa mesma direcção, isqueiros lambendo o escuro, nem ouvi-lo vão, mas esticar o eco ao limite, pôr-se-lhe às cavalitas, trazem o alinhamento decorado, arrastam a cama para ali, cantam, agarrados uns com umas, é a nossa canção, foi em mil novecentos e já era tarde, no peugeot com assentos rebatíveis, a cassete que de tanta estrada ter comido a qualquer lomba já se engasgava, num tempo em que o coro não era constante como agora, não era tudo a toda a hora um mar de gente, os disparates do bom senso, o festejo de ir em bando, às vezes, lá atrás, a gente mal se lembra, na idade média da nostalgia a noite dava para dizer grandes disparates ao lado de coisas fabulosas, praticar uma admiração honesta, sem vir mostrar cicatrizes, tatuar-se de tudo, hoje a pressa de fazer número leva a que uns que nunca tiveram uma espinha funda na garganta crítica, gerando infecção ao ponto de fazer o mundo cambalear, até esses agora vêm atirar o seu osso para a mesa, o esqueleto inteiro para fazer museu junto com os outros, ou se é incondicional ou então estamos a caminho de uma nova guerra fria, revistam um tipo de alto a baixo, contam-lhe as moedas do bolso, quantos cafés, noites sem dormir, o outro nem sabe da chave de casa, não sabe a que horas volta, se lhe interessa receber a felicidade geral, as flores, a coroa de louros e o raio, mas eles querem-no internado, fodido na camisa-de-forças da admiração deles, os infinitamente reconhecidos, os que chegam sempre tarde, e, com uma exuberância adolescente, ainda se julgam a tempo de fazer parte de uma revolução que não houve, génios da primeira fila, t-shirt com a cara do gajo debaixo da deles, como pedras rolando, nem vale a pena pensar o assunto ao contrário, esses estranhos que só se reconhecem se vão no meio do mundo, se sabem a letra e o tempo, então, how does it feel to be on your own?, nem a mais leve puta de ideia, não podiam estar mais em casa, a literatura há-de ser isto, tão reconfortante, os versos feitos refrães, a consciência... um vento que sopra sobre estas cabeças.

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