segunda-feira, junho 20, 2016


Bebo-me no copo de água com que atenuo a minha sede.
Escuto-me no final da palavra com que nomeio o mundo.
Aguardo por mim atrás da porta a que bato.
Recordo-me na substância do esquecimento com que me escondo na minha memória.
Soletro-me como um sonho silábico
no olhar com que me lêem os teus olhos.
Reconquisto-me investigando a ciência da perda.
E só reconheço a minha canção e a minha sombra
na arte secreta dos caminhos apagados.

Pude aprender, antes de me ir,
a não me deixar desenhar pela silhueta seca do homem.

- Roberto Juarroz

Sem comentários: