sexta-feira, março 11, 2016


        A certa altura, entre Berlim e Dresden, Jorge, que no último quarto de hora tinha vindo a olhar atentamente pela portinhola, disse:
        - Porque é que na Alemanha se põem as caixas de correio em cima das árvores? Porque é que não as põem à porta como nós fazemos? Acho detestável termos de trepar a uma árvore para irmos buscar correspondência.
        (...)
        Segui-lhe o olhar para fora da carruagem e disse-lhe:
        - Aquilo não são caixas de correio, são ninhos de pássaros. É preciso compreender este país. Os alemães gostam muito de pássaros, mas de pássaros asseados. Um pássaro abandonado a si próprio faz o ninho onde lhe apetece. O ninho sob o ponto de vista alemão, não é coisa muito bonita, não tem vestígios de pintura, nem de decoração, nem mesmo tem uma bandeira. Construído o ninho, o pássaro passa a viver fora dele. Deixa cair na erva vimes, bocadinhos de vermes, toda a sorte de porcarias. É pouco delicado. Ama, discute com a fêmea, e dá de comer aos filhos em público. O alemão, todo caseiro, não gosta disto. Diz para o pássaro:
        - Gosto de ti por muitas razões. Gosto de te ver, gosto de te ouvir cantar. Mas não gosto da tua maneira de viver. Toma lá esta caixinha e põe lá dentro o teu ninho de maneira que eu não o veja. Quando quiseres cantar, sai cá para fora; mas reserva os teus trabalhos domésticos para o interior. Conserva-te na caixa e não me desarrumes o jardim.

        - Jerome K. Jerome
        (tradução de João Gaspar Simões)
        in Três ingleses no estrangeiro
retirado daqui

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