Teríamos de começar por perdoar-lhe a veleidade que monta o burro e vai para o desaforo, ela vem, chegada à frente da sua importância, e com os óculos descaindo para a ponta desse nariz que não tem fim (como faz o género dos muito sábios) e decreta: desperdício. É o fim de quem queria ter uma vida nesse jogo de pouca razão. Ela é que sabe, o mundo fez ciência daquele olhar, opá, só o médio oriente deu-lhe uma régua que nos tira o jeito, tira o prato da frente dessa inteligência livresca, ela não, fez das pernas bordão dos caminhos mais inacessíveis, quando ela fala agente deve baixar a vida, servir de carpete, porque vai passar a grandeza urgente do mundo, até porque o jornalismo reportageiro dá para dizer mas eu estive lá, eu vi com estes, tive a minha mão a cavalo na primeiríssima mão, não estou a inventar, é como os olhos que a terra há-de comer e que nisso já se foi antecipando, esses olhos meio que comungam já, já escutam o badalar por cima das nuvens, os anjos conferenciando nas pausas da grande luta, a condição do jornalista que saiu mundo fora, montou serviço de denúncia, lá onde os abusos, a tragédia atingiram um nível tântrico, são puras obras do expressionismo alemão, ó isto aqui é uma brincadeira comparado, eu ia-vos escrever sobre o magrebe, mas este mosquito-espécie-cabrão picou-me a mão com que eu escrevo, agora não vai dar para ignorar, não é que me vem este pirata de bidé com a sua biblioteca-metralhadora carregar sobre a madre-superiora das causas extra-muros, eu que se tivesse poderes tinha o mundo salvo amanhã, e só porque esta tarde já tenho um outro compromisso que não posso adiar, amanhã resolvia isto, então eu que fundei a escola O-Mal-Está-Ali!, eu que das minhas atenções faço consciências, eu que inventei a sandwich do sagrado coração da esquerda, porra, chegou agora a vez do alvo ser eu, como é essa história?, eu dei a vida mais que o resto, e agora, findos estes anos todos, cosido com esta linha aqui os fins de mundo uns nos outros, agora que eu vinha para rematar, numa de grande escritora, premiada à primeira, porrada no secretário de estadeco, bimbo que se arranjou à última da hora, que dava sins feito cão de tablier, nas horas vagas, ainda servia de cão de guarda, eu que sou EU, essa alegria impoluta, essa convicção deslumbrada, que atravesso o atlântico enquanto tu só tens tempo de atravessar a rua, escafiado aqui no pardieiro, eu que tirei férias e fui a correr para estar em todas as frentes, não fosse napoleão encarnar um dia destes, e agora volto para casa, vou ser a romancista da consciência mais impante desta província de coitados, bandidos e cínicos, e vem-me este, faxineiro de uma arte com os dias contados, vem este biltre arrancar-me a coroa no meio do baile, quando eu estava a anunciar o esquema de evacuação do titanique jornalento, a forma de nos bancarem os cuidados paliativos, vem-me este dizer que não é assim, que estou a ver mal a coisa, se calhar em vez de discutirmos aqui os pontos, mostrarmos as cartas, eu nem dispo o bluff, eu junto os meus, eles partilham no livro-das-fuças, dou cabo de quem resta ainda vivo com o teu nome na boca, eu faço um telefonema, eu acabo com a tua raça, e, no fim, eu vou é sambar, mais os matusquelas, dou um passo à frente, por cima do teu cadáver, até porque, como aprendi pelo mundo, os mais duros agente molha no leite antes de levar de novo à boca. Fui, xox
segunda-feira, janeiro 25, 2016
ALC, acima de qualquer suspeita
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