terça-feira, novembro 24, 2015

Como dois números negativos multiplicados pela chuva


Deita-te, és horizontal.
Levanta-te, já não és.

Queria que o meu destino fosse humano.

Como um perfume
que não escolhe para onde se propaga,
que não pode ser direito ou torto, excluído ou guardado.

Sim, Não, Ou
— um dia, uma vida, escapa-se por entre eles,
retirando a terceira pele,
retirando a quarta.

E a lógica dos sapatos torna-se por fim simples,
uma pergunta animal, a arrastar os pés.

Sapatos velhos, estradas velhas —
as perguntas não param de se renovar.
Como dois números negativos multiplicados pela chuva
que dão laranjas e azeitonas.

- Jane Hirshfield
(tradução de Vasco Gato)

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