quarta-feira, agosto 05, 2015

A morte, aqui


Não fosse suficientemente triste a notícia da morte de uma poeta relevante, o que piora a coisa é a abertura com uma das balelas encomiásticas pescadas de entre a vasta e tão disponível colecção de pirosas homenagens - no estilo one size fits all - lançadas de uma destas máquinas de fazer parvos que atravancam os horizontes referenciais dos jornalistas que vão cobrindo a cultura. Já não é apenas mais complicada a vida para o artista nascido neste país, é a própria morte que está a ficar um espectáculo ainda mais miserável. Virá o dia em que o poeta pedirá à família que não se chibe da sua morte. Que deixe passar uns meses e fale então da coisa, como quem comenta um facto de todos conhecido, para que ele possa sair de fininho, fugindo à surpresa, e talvez assim já não mereça notícias nem tenha de aturar homenagens mixurucas.

in Público, 5.8.2015

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