«'A Literatura no estômago' apareceu em Fevereiro de 1950 e a réplica dos críticos surgiu em Dezembro de 1951 com a atribuição do prémio Goncourt ao autor, pelo seu romance Le Rivage des Syrtes. Maurice Nadeau avançou nestes termos os motivos da escolha: "Um surrealista que escreve como um professor - ora aí está o laureado ideal". O ânimo de Gracq não desmaiou com a estupidez infusa neste argumento tão hipócrita quanto mesquinho e recusou o galardão: "Permitam reafirmar ao júri, sem acrimónias desnecessárias - não me acreditariam, bem no sei - que há escritores para quem o maná publicitário não desculpa nem cobre tudo. No fim de contas, um escritor tem o direito de escolher a sua via de acesso ao público; não querendo considerar uma recusa tão firmemente expressa, os senhores críticos reconhecerão pelo menos que cometem um abuso de poder'.
Gracq é um destes escritores pouco conhecidos, que ninguém ousa criticar nem atacar, como se os protegesse uma espécie de armadura arcangélica, diante de quem a primeira reacção do público e da crítica é descobrir-se, como à passagem de um enterro. Para ele, não há razão de ser para a literatura congelada e cinzenta: o escritor, seguindo o terrível conselho de Céline, deve calar-se "quando já não tem em si música suficiente para fazer dançar a vida...".»
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