quinta-feira, janeiro 29, 2015

Moi-même, la mort


No mais, o mundo é sem retorno.
Mas manifestamente
não queria saber.
Já tinha protestado, já tinham respondido, já tinha
contestado as objecções.
Via-se a si própria
do lado errado da saúde pública. Nem corpo, nem alma
lhe davam garantias de robustez. Sentia o coração,
algures, disperso pela pele,
e di-lo-ia dotado de movimentos intermitentes.
Media os tempos, interrompidos,
e entre um e outro
parecia apagar-se como uma luz perante um foco mais forte.
Preferia desligá-las.
Subia o estore e ficava à janela a adivinhar ao longe
a massa húmida do hospital. Já desistira
de correr para as urgências.
Tinha aprendido a medir os passos.
Desde há dois anos que avançava só o suficiente 
para poder recuar sem cair.
Não o lamentava.

 (D’ailleurs, depuis longtemps, elle ne se croyait plus
 l’enfant perdue de Marcel Duchamp.)

- Madalena de Castro Campos

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