segunda-feira, janeiro 12, 2015

Base para copos – poema para Azeitão


Sopa só e fruta
A passo de elefante
E enrola-me o cabo aí a um canto.

Há uma nódoa de vinho no levante
Uma luz que se entornou dum copo
Quando alguém tentou chegar ao pão.

Os loucos estão a lamber o convés
Outra vez e diz que o fazem por gosto.
Nas mãos sujas o mesmo sabor a pés

A que no transístor velho chamam mosto
Mas que toda a gente sabe que é da chuva
E o vigia toca muito mal a gaita.

Parece que o fim do dia é canção
Par' esses que bem ou mal sempre estão
Debaixo da rosa velha do sol

Há uma nódoa de vinho no levante
E muito mar pra galgar esta noite.
No balde há água fria e sonasol.

- Sebastião Belfort Cerqueira
in O Pequeno Mal, Edições Sempre-em-pé

1 comentário:

Carlos Natálio disse...

"Os loucos estão a lamber o convés
Outra vez e diz que o fazem por gosto.
Nas mãos sujas o mesmo sabor a pés"

Muito bom :)