Amo uma mulher de longa cabeleira
Como num lago mergulho em seu rosto suave
Minha fronte voga lentamente em seu ventre
Apalpo mordo afago seus volumes sedosos
Revisto cavidades torno-me a esponja do seu suco
Mulher meu pântano aranha tenebrosa
Labirinto infinito tambor palácio estranho
És minha única irmã de abandono e esquecimento
Teus peitos e tuas nádegas duplos montes gémeos
oferecem-me a brancura de uma pomba gigante
O amor que damos um ao outro é de noite na noite
Em crueldades magníficas reúne-nos a cama
Levantam-se colunas de respiração e odor
Trituro masco sorvo precipito-me
O desejo floresce entre túmulos abertos
Túmulos de beijos bocas ou moluscos
Ando a voar enfermo de venenos
Reinando em tuas membranas pleno de viço e errante
Nada termina nem começa tudo é triunfo
da ternura vigiada de silêncio
O pensamento afastou-se de nós
Nossas mãos juntam-se como pedras felizes
Está a mente quieta qual imóvel palmípede
As horas derretem-se os minutos esgotam-se
Não existe nada mais que agonia e prazer
Prazer tua cara não fala mas cavalga
sobre um mundo de nuvens na caverna do ser
Somos mudos não estamos na vida ridícula
Chegamos a ser terríveis e divinos
Fabricantes secretos de mel em abundância
Ouvem-se os gemidos da carne infatigável
Num instante ouvi metade do meu nome
a sair subitamente de teus dentes cerrados
Na luz consegui ver a expressão da tua face
que parecias outra mulher naquele êxtase
A escuridão põe-me furioso não te vejo
Não encontro tua cabeça e não sei o que toco
Quatro mãos afastam-se com seus dedos dormindo
e longe delas vagueiam também os quatro pés
Já não há donos não há mais que suspenso e vazio
O barco do prazer encalha no alto mar
Onde estás? Onde estou? Quem sou eu? Quem és tu?
Para sempre abandono este interrogatório
Ébrio enfeitiçado louco às portas da doença
grandiosa a paixão espero o turno fálico
Novamente num quarto estamos os dois juntos
Nus esplendorosos cúmplices da Morte.
- Carlos Edmundo de Ory
(tradução de José Bento)
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