domingo, julho 20, 2014

A pedra

 
Não sei se elas sangram, as pedras. Ou se gritam, se uivam sob a roda e a maça ou se a lâmina da faca as fere, profundamente na carne, dilacerando-as.

Eu sei que o barro que por vezes corre delas, apesar de vermelho, não é sangue.

Não direi nada da sua ternura, de pedra para pedra, da água para o ar.

O que eu sei é que o nosso sangue vem da pedra. E a nossa carne vem de outro lugar, vem da pedra, somos pedra, somos pó e fumo do vento.

Que o nosso sangue é sangue da pedra e o nosso calor do sol e o nosso lamento o uivo da pedra, através da qual a nossa alma passa inteira, que somos a alma da pedra-- mas digam-me, a pedra, quem é a pedra e de onde veio?

- Marcela Delpastre  
(versão de Jorge Sousa Braga)

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