terça-feira, abril 22, 2014


Estás calada, alma cansada de fruir
e de sofrer (a uma e outra coisa
deves resignar-te).
Nenhuma voz tua ouço se escuto:
não de saudade da miserável
juventude, não de ira ou de esperança,
nem sequer de tédio.
Jazes como
o corpo, emudecida, plena
de uma resignação desesperada.

Não nos espantaríamos,
não é verdade, alma minha, se o coração
parasse, se o fôlego
se suspendesse...
Ao invés caminhamos,
caminhamos tu e eu como sonâmbulos.
E as árvores são árvores, as casas
são casas, as mulheres
que passam são mulheres, e tudo é aquilo
que é, apenas aquilo que é.

A alternância de alegria e de dor
não nos diz respeito. Perdeu a voz
a sereia do mundo, e o mundo é um grande
deserto.
No deserto,
de olhos enxutos, contemplo-me a mim mesmo.

- Camillo Sbarbaro
(tradução de Vasco Gato)

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