Raízes podres, gengivas
inflamadas até
às palavras. Comer e dormir são
aventuras dolorosas, dão
suores frios, esborratam
o entendimento até
à memória. Não me
permito ofender Deus ou
apenas em reflexos
condicionados. Cão
obeso, abandonado,
com o açaime como
se fosse andaime da marcha
sem quartel. Vejo-me
marionete à porta de
um teatro alheio. Teimo
em cuspir sangue, liberdade
dos tolos. Desta
rua em diante, só
os ratos escapam à
paralisia da
alma. Ao longe,
um risco escuro, azul
e escuro, parece
agitar-se como um
pano de adeus à
espada que brami quando
o pão era areia e a areia
pão. 44
anos a sujar
saladas. 44 décadas demasiado
tarde, como queriam
que o mais leve
aroma da mostarda não
fosse só petróleo e
esta luz eléctrica, hospital
de doenças sem nome, imaginárias,
cabeças de ovelha num
quadro envelhecido, bolor
e lã confundidos na
espera? “Senhor
prior de aldeia, o exorcismo
passou de prazo como
as suas unhas
não mais desencardirão
após tanta fumaça, um velho
é um velho, um cão
é um espantalho. Falassem
as flores, não me deixariam
mentir.”
Um riacho, um arroio,
um mínimo sussurro foi
minando a baixela que
pousaram no chão, in-
cúria irreversível (bastara
manta velha). Algumas
ligas pedem
polimentos constantes, bafos
e dentes brancos nos
seus espelhos, mirantes
sobre um tejo ou
um sonho de tejo ou
um sonho de tudo, louro
e inconstante. Os ourives (que
ourives?) ouviram
as sereias. Agora,
tudo arde. Ardor
dilacerante. Mater
dolorosa. Rosa
dolorosa. Lágrimas
sáurias. Escusadas,
inúteis.
- Miguel Martins
terça-feira, março 04, 2014
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poesia de fora
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