segunda-feira, fevereiro 03, 2014


Interessa a viagem,
pouco importa o destino.
Gosto de me integrar,
digamos,
na intimidade dos outros.
Por vezes,
acontece,
não temos muita sorte
e extraem-nos sem misericórdia.

Amputam-nos.

Eu prefiro o aleatório.
Tenho o direito de querer
um coração que me aloje,
ou de me prolongar
na cabeça de alguém.

[Tenho uma amiga
que já fez um homem perder a cabeça.
Isso, porém,
não se faz
nem me satisfaz.
A minha técnica é mais subtil,
mas o intento é o mesmo:
quando entramos na intimidade de alguém,
ninguém pode sair ileso.
Se saírmos ilesos, foi inútil.
Eu, felizmente, tenho estrias.]

Quando morrer,
gostava de levar no corpo
o sabor de um estranho
a quem me dei em volúpia.
Gostava de levar
aquele suspiro das insónias,
o eco de um verso inacabado,
o sangue frio da paixão,
os sonhos de infância,
ou o andamento
lento
de
um
órgão
reservado
a requiems.

[Esta bala foi vítima de um homem perdido]

- Vítor Sousa

1 comentário:

Unknown disse...

Gostei muito! Vou levar ao meu blog :)