domingo, novembro 24, 2013

A minha vida dorme


Todo o som é excessivo: o restolho dos lençóis,
o clamor de cabelos emaranhados, o tinido dos dentes.
Ínfimos traços de suor fixam residência em cada ruga
do corpo, mas a respiração é regular, ela está quente,
e o quarto, tão seguro como o pode ser um quarto em Londres.
O metro atroa, a escassa profundidade,
e os aviões, em direcção a Heathrow, circulam no telhado.
A cada dia, o corpo parece-te, no ar que exala,
cada vez mais fedorento; ela está mais simpática, mais elástica.
Dobra-te mais perto e apanha as iguarias do sono,
ouve a pulsação da pele, prova a mandrágora
do suor nocturno. Inclina-te e poisa o dedo
no lugar que tu achas que é o sonho.

- Jo Shapcott
(tradução de Hugo Pinto Santos)
retirado daqui

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