domingo, outubro 06, 2013

Lisa


Quando Lisa me disse que tinha feito amor
com outro, na velha cabine telefónica daquele
armazém da Tepeyac, acreditei que o mundo
se acabara para mim. Um tipo alto e magro e
com o cabelo comprido e uma verga imensa que não esperou
mais que um encontro para penetrá-la até ao fundo.
Não é nada de sério, disse ela, mas é
a melhor maneira de te pôr fora da minha vida.
Parménides García Saldaña tinha o cabelo comprido e tinha
conseguido ser amante de Lisa, mas alguns
anos depois soube que tinha morrido numa clínica psiquiátrica
ou que se tinha suicidado. Lisa já não queria
andar metida com falhados. Às vezes sonho
com ela e vejo-a feliz e fria num México
desenhado por Lovecraft. Escutamos música
(Canned Heat, um dos grupos preferidos
de Parménides García Saldaña) e logo fizemos
amor três vezes. A primeira veio-se dentro de mim,
a segunda veio-se na minha boca e a terceira, apenas um fio
de água, um pequeno fio de pesca, entre as minhas mamas. E tudo
em duas horas, disse Lisa. As duas piores horas da minha vida,
disse-lhe do outro lado da linha.


- Roberto Bolaño
in La Universidad Desconocida, Anagrama

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