domingo, setembro 01, 2013


Nós íamos calados pela rua
E o calor dos rosais nos salientava tanto
Que um desejo de exemplo me inspirava,
E você me aceitou por entre os santos.

Erguer do chão um toco de cigarro,
Fumá-lo sem saber por que boca passou,
A terra me eriçava a língua e uma saliva seca
Poisando nos meus lábios molhados renasceu.

Todos os boitatás queimavam minha boca
Mas quando recomecei a olhar, ôh minha doce amiga,
Os operários passavam-se todos para o meu lado,
Todos com flores roubadas na abertura da camisa...
O Sol no poente, de novo auroral e nativo,
Fazia em caminho contrário um dia novo;
E as noites ficaram luminosamente diurnas,
E os dias massacrados se esconderam no covão duma noite sem fim.

- Mário de Andrade
in Poesia Completas (Volume 1), Nova Fronteira

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