sábado, setembro 21, 2013

Manhã de Inverno
(William Jay Smith)


Toda a noite o vento soprou sobre a casa
E através do nosso sonho,
Arrastando a neve pinheiros acima,
Agitando as ripas de gelo cobertas, brancas,
Sacudindo as janelas,
Sussurrando em volta e em baixo da nossa cama
De tal modo que navegávamos
Sobre águas encapeladas
Num navio branco cortando as vagas.
Navegávamos através da noite
Em águas de verde
Marmoreadas, e, meio acordados, observávamos
Os erodidos cumes dos icebergues
Que deslizavam nas janelas;
Navegávamos noite fora naquele país do norte,
E acordámos, a casa sepultada em neve,
Empoleirada num
Gelado promontório, um
Dente de gigante
Na boca do frio vale,
Sua língua branca à nossa volta enrolada,
Os troncos das bétulas altas
Revelando o arcabouço de uma baleia
Por uma corrente imóvel encalhado;
E vimos, através da barbatana parada dos seus ramos,
Como se através do tempo,
A luz que brilhava
Numa paisagem de marfim,
Uma enseada de osso.
Jamais visitei a neve.
Jamais lhe sondei o peso, o manto.
Aprecio-lhe porém a fria virtude de pesadelo:

o que me define. 

- Luís Quintais
in Poesia Revisitada, 7 letras

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