quinta-feira, setembro 19, 2013

Hospitais, nuvens, elevadores


São pacientes, perguntam
como erguer, sustentar ali a vida
conduzi-la de corredor em corredor
até à porta que seja a única
Fulminados de memória
perdem-se entre as nuvens
que cercam a casa
e ocupam as janelas, uma a uma

Sombrias chegaram, muito pela tarde
elaboram tempestades do lugar
trazem planícies e pátios sossegados
o bulício do mundo propriamente dito
todos os dias em que viram o mar

São os que levam consigo
delgados fios de soro
acolhem essa espécie de ouro transparente
e reparam em coisas desfasadas
cadeiras vazias, posições de conversa

A vida morre incompleta e renasce várias vezes
assoma breve no acaso de elevadores
como se houvesse um aceno secreto
quando se abrem as portas
e muito depressa se fecham

- José Manuel Teixeira da Silva
in O Lugar que Muda o Lugar, Língua Morta

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