terça-feira, setembro 17, 2013

Cena final


deixei a porta entreaberta
sou um animal que não se resigna a morrer

a eternidade é a obscura dobradiça que provê
um pequeno ruído na noite da carne

sou a ilha que avança sustentada pela morte
ou uma cidade ferozmente cercada pela vida

ou possivelmente não sou nada
apenas a insónia e a brilhante indiferença dos astros

ermo destino
inexorável o sol dos vivos se levanta
reconheço essa porta
não há outra

gelo primaveril
e um espinho de sangue
no olho da rosa.

- Blanca Varela
(tradução de José Eduardo Simões)

Sem comentários: