sexta-feira, agosto 16, 2013

Tran-qui-lo


Quando o ponteiro à força de ser puxado
se transforma numa flor na escuridão
do teu corpo que fecha os olhos
para melhor sentir o frio na garganta
que se te oferece como um dom constante,
a pena que te faz cócegas, a fraqueza
que aqui anda há um século que não obstante
regressa esta noite à tua Paris de pontes
sobre tudo e sorrisos capazes de reunir
os fragmentos dispersos da ruína:
essa elegância extrema que rejeitaste
provavelmente são os nervos, tua tristeza,
o estômago que te range no centro de
toda a estética quem te faz projectar
o sorriso perdido há quase um século
e o cabelo cortado à escova e os olhos
azuis profundamente loucos e bons e
o ponteiro que não pode velar por nós.


- Roberto Bolaño
in La Universidad Desconocida, Anagrama

Sem comentários: